Retrato de sobrevivência


Berlim. Amsterdã. Varsóvia. Todas elas, grandes capitais do que antes eram grandes países. Berlim, já destruída por conta dos vastos quatro anos de duração da primeira Grande Guerra, sofreu novamente, desta vez por um dos seus. Ambas, assim como muitas outras por este vasto mundo, tomadas pelo desespero. Milhões de olhos assustados, marejados pelas lágrimas do medo de um destino pior que a morte. Desesperados por não terem mais um lar para o qual voltar, por não terem mais um motivo para sorrir.
Vidas irrecuperáveis. Mais de quarenta e cinco milhões de mortos, inocentes. Donos de tudo, donos de nada... Tomados de suas casas, dos braços de suas mães, que gritando a lágrimas nos olhos, suplicavam aos que possuíam a suástica nos braços que não lhe tomassem os filhos.
Se a força em seus membros não lhes fosse suficiente, a morte era o único destino. Se fostes mulher, frágil, delicada e indefesa, tomavam-na em suas camas, dois, três oficiais... Nunca lhes vinha em pensamento as esposas que, seguras nos abrigos nazistas, os esperavam todas as noites? 
Os frágeis pequeninos, julgados como adultos, apenas por terem herdado o sangue considerado sujo, o sangue judeu. Separados daqueles que lhes deram a vida, com membros arrancados para lhes testar a sobrevivência, testados como animais grotescos. Poucos sobreviveram à tais séries de torturas. 
"Sobrevivência: Ato ou efeito de sobreviver. Aquilo que subsiste após um desaparecimento, uma perda."
Assim definido pelo conceituado dicionário virtual, Dicio. Tratados como heróis, por terem sobrevivido à segunda Grande Guerra, como se tivessem salvo o mundo. Sendo seu único desejo, serem salvos do mundo cruel criado pelo Führer, onde enfretaram o temido Inferno na Tera. O trauma vivido, jamais esquecido. 
O olhar em suas faces, abalado, aterrorizado, amedrontado. Pesadelos constantes, lapsos de memórias, lembranças daqueles anos marcadas à ferro e tinta em seus corpos magros e pálidos. Eles nunca realmente deixaram os campos de concentração. Valeria a pena continuar a viver? 
O mundo pós-guerra os via com outros olhos e eles viam o mundo pós-Führer com olhos enegrecidos pelo sofrimento. Auschwitz teve cerca de 300 sobreviventes, de milhões que para lá foram mandados. 300 vidas completamente destruídas, 300 sobreviventes que mais pareciam mortos. 
Strong as you were. Forte como você estava. Já diz James Blunt em uma de suas criações. I'll carry you home. Eu vou te levar para casa. Mas... Que casa? O que estes sobreviventes tinham ao voltar para suas "vidas"? Fortes. Queriam eles demonstrar força ao sobreviver? Ou apenas mostrar que mesmo sem nenhuma chance aparente de sair de lá, se mantiveram vivos na esperança? Pois bem, ninguém é forte para sempre e a morte é inevitável. 



Obs: Este texto foi escrito em 29 de setembro de 2015 em uma aula de história. Segunda Guerra Mundial e o Holocausto são dois dos meus assuntos preferidos no mundo, então estou sempre lendo e pesquisando sobre eles. E um dia acabei escrevendo um texto sobre o assunto. Espero que tenham gostado. 

                             - Anna Carolina Miotto Freire.

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